sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mega inundação em São Luiz do Paraitinga


No dia 01Jan10 o Centro de Comunicações do Posto de Bombeiros de Taubaté foi informado que havia uma pequena inundação no centro da cidade de São Luiz do Paraitinga. A pessoa que ligou disse que a água tinha subido apenas uns 50 cm, mas que era normal isso acontecer por lá.



De qualquer forma, o Sargento Cristiano e sua guarnição de três homens seguiram na viatura Auto-tanque nº 30 (AT-30) para verificar a situação. Quando chegaram por lá viram que realmente as águas tinham subido só uns 40 ou 50 cm, o que não oferecia perigo imediato à população.

Por via das dúvidas resolveram permanecer na cidade até que parasse de chover.
Enquanto isso, o tenente Lucas, que estava vindo de Ubatuba, foi informado por celular a respeito da inundação e ficou sabendo que uma aeronave do Comando de Aviação do Exército iria sobrevoar a cidade para realizar uma inspeção. O tenente, juntamente com o Sargento Valério, do Posto de Bombeiros de Taubaté, e o Sargento Eleotério, do Policiamento, sobrevoaram a região e fotografaram a situação.
Vendo que tudo estava sob controle, o tenente regressou para Taubaté, mas deixou a guarnição na cidade, com a determinação de avisar, caso as coisas piorassem.
Não deu outra !!! Na virada da noite a chuva aumentou e as águas começaram a subir novamente. A guarnição avisou o tenente e os homens começaram a chamar os moradores para sair das casas.
Como a população já estava acostumada com as enchentes periódicas, que costumam assolar a cidade, ninguem deu muita bola achando que as águas iriam subir no máximo mais uns 50 cm. O problema é que as águas não paravam de subir e as pessoas, ao invés de sairem das casas, subiam para o pavimento superior achando que a água não iria sibir muito.
Mas as águas continuaram a subir e quando chegaram a uns 4 metros de altura, quase todos os moradores estavam presos em suas casas. Havia se formado uma corredeira imensa no centro da cidade (imaginem um rio de corredeira passando no meio da cidade, com o perigo de derrubar as casas com as pessoas dentro !!!). Bateu pânico geral !!!
Nesse momento, um grupo de moradores, que trabalhava com botes de rafting (levando turistas para passear no rio) se ofereceu para ajudar e junto com o pessoal do bombeiro conseguiram salvar mais de 300 pessoas que estavam ilhadas. Muitos prédios não resistiram à força das águas e ruiram, mas, por sorte (graças ao trabalho em equipe dos bombeiros e do pessoal do rafting) ninguém se feriu ou morreu.



Foram feitos mais de 300 resgates nessa madrugada. Na manhã seguinte a situação estava catastrófica. A cidade estava sem comunicação com o resto do Estado (Não funcionavam os telefones fixos e os celulares estavam ficando sem bateria - não havia como carregá-los porque a cidade estava sem energia elétrica). Vários postes foram derrubados pela corredeira.
Também não havia água porque os reservatórios de água potavel tinham sido inundados pelas águas barrentas dos rios (Rio Paraitinga e Rio do Chapéu). As pessoas estavam com fome e não havia comida para a maioria delas, porque elas tinham abandonado suas casas (muitas das casa havia ruido).
O reforço do Corpo de Bombeiros não tinha como chegar à cidade, porque as estradas estavam impedidas por quedas de barreiras em vários trechos. A cabeçeira da ponte que ligava São luiz à Ubatuba e Taubaté havia caido. Só depois de muito esforço os bombeiros conseguiram chegar à cidade pegando atalhos e carregando os botes e boa parte do equipamento nas costas.
Trabalhamos nas operações de resgate e recuperação da cidade até o dia 15Jan10, tendo realizado centenas de salvamentos, resgates, e auxiliado nas ações de Defesa Civil (levando medicamentos, alimentos, água, roupas, etc. para as pessoas que estavam em locais de difícil acesso). Naqueles dias sobrios, tinhamos uma equipe com uns 50 bombeiros por dia e trabalhavamos cerca de 15 horas por dia. Dormíamos umas 3 ou 4 horas por dia e passavamos o resto do tempo viajando entre nossa casa e São Luiz.
Mas todo mundo trabalhou dando o melhor de si, porque nessas ocasiões os bombeiros ficam "mais fortes", a energia supera o cansaço e ninguém pensa em desistir. Em uma equipe porreta como essa, um ajuda e motiva o outro, ninguém deixa ninguém na mão. Time é time.
Até hoje ainda tem uma guarnição com 3 ou 4 bombeiros na cidade...ajudando a prefeitura nos trabalhos de recuperação da cidade.